sexta-feira, 24 de abril de 2020

Em meio à escuridão... (ficção)

Assim que tive aquele primeiro e breve momento de lucidez ao acordar, senti a cabeça latejar. Estava o mais absoluto silêncio e era perceptível a pressão causada pelo sangue em seu caminho.

"Que dor de cabeça!", pensei em voz alta... não bebi na noite anterior e parecia até que bebi como se estivesse despedindo da vida. Nenhuma ressaca que já tive se iguala a isto.

Tentei mudar de posição para uma mais agradável enquanto criava a coragem necessária para levantar e buscar água. Não é ressaca e não é fome, deve passar em breve. Pensei em como deveria estar mais confortável meu colchão. Mas então percebi que não era minha cama.


"Não é possível, que p..." Um chiado me interrompeu. Tateei e vi que estava deitado sobre algo parecido com um colchão de solteiro fino. Mas isto pouco importava agora. Quem é o responsável pelo chiado? Onde eu estou? Como cheguei até aqui?

Ainda deitado sobre a cama estiquei o braço para fora e tentei alcançar o chão. Não parecia uma cama e sim uma construção de tijolos sobre a qual um colchão foi depositado.

Toquei o chão e era frio como poucas vezes senti um chão gelado no interior de uma casa. Não era áspero como concreto, mas não era de azulejo, seria uma ardósia? Explorei as outras extremidades e descobri que estava no canto.

Absoluta e mais completa escuridão me cercava. Me sentei com os joelhos à altura dos ombros e encostei no canto. Ergui os braços e os mantive horizontalmente também à altura dos ombros e espalmei as duas paredes atrás de mim. A parede parece revestida de uma superfície emborrachada, mas nada encontrei onde alcancei com o tato.

Procurei a partir de minha posição e não encontrei qualquer sinal de luz em frestas ou objetos afastados. Nenhum brilho metálico refletindo, nenhum sinal de interruptor recentemente apagado. Nada.

Exceto pelo chiado que ouvi logo ao acordar, não ouvi outros sons além dos que eu produzi. Perdi a conta do tempo que passei imóvel apenas ouvindo a minha respiração tentando reconhecer algum som ou facho de luz.

Fiquei de pé sobre a cama e estiquei os braços para cima apoiando sobre as pontas dos pés. Nada de alcançar o teto. Também não tenho noção de quanto tempo se passou enquanto eu ponderei comigo mesmo se perguntava o que era aquilo, se tateava o resto do ambiente, se simplesmente esperava o tempo passar à espera de um contato.

Nenhum som ou luz foram emitidos durante este processo. Resolvi sair da cama.

(Continua...).

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